Dezoito siderúrgicas de Sete Lagoas e região interromperam suas atividades por 12 horas nesta terça-feira (3), em um protesto coordenado contra o que classificam como uma crise sem precedentes no setor do aço brasileiro. A paralisação, que vai das 6h às 18h, deve suspender a produção de aproximadamente 2.500 toneladas de ferro gusa — matéria-prima essencial na fabricação do aço — o que representa um prejuízo direto de R$ 5 milhões. Para os empresários, a medida é um grito de alerta diante da crescente dificuldade de competir com produtos importados, especialmente o aço chinês, que entra no Brasil com preços subsidiados e pouca restrição.
Segundo o empresário Willian Reis, um dos organizadores do movimento, o objetivo é evidenciar a fragilidade do mercado siderúrgico nacional diante da avalanche de importações e da ausência de uma política efetiva de proteção ao setor. Ele explica que os preços praticados atualmente estão abaixo do custo de produção, o que inviabiliza o funcionamento de muitas unidades e já coloca em risco milhares de empregos. “O setor está unido porque, se nada mudar, as demissões em massa serão inevitáveis a partir do mês que vem”, afirmou.
A indústria siderúrgica em Sete Lagoas é responsável por cerca de 5 mil empregos diretos, e os empresários temem que a estagnação continue caso o governo federal não tome medidas mais contundentes. A principal reclamação é a concorrência desleal com o aço importado, que tem se intensificado desde 2022. Dados do Instituto Aço Brasil revelam que, apenas nos quatro primeiros meses deste ano, houve um aumento de 27,5% nas importações, pressionando ainda mais a produção nacional. Mesmo com a recente decisão do governo brasileiro de renovar um limite de importações para aplicar tarifas adicionais após certo volume, o setor avalia a medida como ineficiente e tímida.
O cenário internacional também influencia diretamente o mercado interno. No último fim de semana, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que dobrará as tarifas de importação de aço, elevando-as para até 50% ainda neste mês de junho. Para Reis, isso pode gerar uma valorização do ferro gusa, impulsionando as exportações brasileiras. No entanto, o risco de que o mercado interno seja inundado por mais produtos acabados, ainda mais baratos, preocupa. “O preço do gusa pode até melhorar com o fortalecimento da indústria americana, mas a entrada de aço pronto no Brasil deve se intensificar e sufocar ainda mais nossas aciarias”, alerta.
O protesto desta terça pode ser apenas o começo. Segundo os organizadores, se nenhuma resposta efetiva for dada pelas autoridades, a próxima etapa do movimento poderá envolver a redução dos dias úteis de produção. A paralisação desta terça é, portanto, um aviso: o setor siderúrgico nacional pede socorro.
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