O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne na próxima semana para definir os rumos dos juros básicos brasileiros e, pela primeira vez em meses, a reunião brasileira não ocorrerá no mesmo período que a do Federal Reserve (FED), banco central dos EUA. E, além disso, há um outro descolamento entre o Brasil e os Estados Unidos: enquanto por aqui a inflação veio abaixo das expectativas do mercado, nos EUA ela mostra uma resiliência maior. Segundo a equipe de economistas da Daycoval Asset, o cenário externo tem suscitado mais preocupação, mas mesmo assim eles esperam um novo corte de 0,50 ponto percentual (p.p) da Selic, que passaria dos atuais 10,75% ao ano (a.a) para 10.25% a.a.
“Entre o cenário externo e o interno, atualmente o externo tem preocupado mais. A gente acredita que se fosse só as questões domésticas com o cenário externo mais benigno, a percepção de risco seria um pouco diferente, o mercado seria mais leniente com essas questões fiscais e não só, lembrar aqui que no cenário doméstico, ainda que a inflação de modo geral esteja benigna, tem uma parte da inflação dos serviços, atrelada aos intensivos em trabalho, que tem subido um pouco na margem, então essa parte também incomoda”, explica Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset.
Nesta leitura, a inflação brasileira mais baixa que a prevista se contrapõe a um cenário fiscal mais desafiador. Há poucas semanas o governo anunciou a nova meta fiscal para 2025, passando de um superávit de 0,5% do PIB para uma meta zero, o que contribuiu para uma piora das expectativas e maior volatilidade do dólar e da bolsa.
Mesmo com um cenário externo mais adverso e que acaba impactando no Brasil, para a Daycoval Asset a taxa básica de juros deve seguir com o movimento de queda e fechar 2024 com juros de 9,75% a.a. Ou seja, depois da reunião de maio, são esperados cortes de intensidade menor, de 0,25 p.p nos próximos encontros do colegiado.
“Nós ainda acreditamos que tem algumas quedas de juros para acontecer. Nosso cenário base é de 9,75% a.a, ao no final de 2024. A princípio, mais uma redução de 0,50 p.p e depois as quedas passam a ser de 0,25 p.p. No entanto, há sim a possibilidade de já passar para 0,25 p.p a redução da Selic e manter esse ritmo até chegar aos 9,75% a.a”, disse Cardoso que completou que a Daycoval Asset acredita que novas reduções nos juros devem ocorrer em 2025 e ao final do próximo ano o país chegue a Selic de 8,25% a.a.
Cardoso reforçou ainda que a reprecificação de ativos globais não é algo das últimas semanas, mas algo que já vem de algum tempo e que o impacto sobre o câmbio do Brasil estava relativamente contido.
“O impacto no câmbio ainda estava relativamente contido e, portanto, a gente ainda não havia revisado o nosso cenário da Selic, porque o cenário lá fora é o pior, mas sem materialização na inflação pela via do câmbio, não deveria levar ao BC uma reavaliação de política. Mas o que aconteceu nas últimas semanas foi que, a partir de um determinado momento, o câmbio começou a andar e aí a gente fez a revisão da Selic por conta disso”, explicou Cardoso ao justificar a mudança de projeção da Daycoval Asset sobre inflação.
Na quarta-feira (1º/05), o FED decidiu pela manutenção, pela sexta vez seguida, da taxa básica de juros do país entre 5,25% e 5,50% ao ano. Segundo o presidente do banco central dos EUA, Jerome Powell, apesar da inflação norte-americana estar mais moderada, ele não viu indicativos adicionais de que ela caminha para a meta anual de 2% e, por isso, os juros ainda devem se manter neste patamar por mais tempo. Mas Powell tranquilizou o mercado ao dizer que considera “improvável” uma nova alta nos juros.
No Brasil, os dados mais recentes de inflação são do dia 26/04, quando o IBGE divulgou a prévia do IPCA, inflação oficial do Brasil, para abril, que ficou em 0,21%, 0,15 p.p menor que a do mês de março e 0,36 p.p mais baixa que o índice apurado no mesmo período do ano passado. Nos Estados Unidos, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) aumentou 2,7% no acumulado em 12 meses até março, acima dos 2,5% registrados em fevereiro e superando as expectativas de consenso do mercado, que projetava uma alta de 2,6% no índice.
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