Após aprovar apenas candidatos brancos em um concurso com vaga reservada para negros, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) decidiu refazer a segunda etapa do processo seletivo para professor adjunto do Departamento de Fisiologia e Biofísica. A decisão veio após a denúncia de que candidatos acompanharam as provas de outros, o que é proibido pelo edital. Uma nova data será anunciada, e os candidatos serão convocados com 30 dias de antecedência. A advogada de uma candidata desclassificada vê a decisão como uma vitória parcial, aguardando ainda a possível mudança da banca de avaliação.
Em comunicado assinado pelo diretor do ICB, Ricardo Gonçalves, a UFMG reconhece que, durante a seleção, "não foram observados" itens previstos no edital. Dentre eles, o fato de ser "vedado ao candidato assistir à realização das provas dos demais candidatos".
Uma nova data para a seleção será divulgada posteriormente. No comunicado, a universidade apenas afirma que os candidatos serão “convocados com até 30 dias de antecedência para comparecimento no local estabelecido para a realização da prova”, conforme previsto no edital.
O concurso foi dividido em duas fases: prova escrita na primeira e julgamento de títulos e apresentação de seminário na segunda. Conforme a UFMG, 11 candidatos participaram da primeira etapa, sendo que sete avançaram para a segunda, quando ocorreu a desclassificação dos candidatos negros.
A denúncia da classificação apenas de candidatos brancos veio a público a partir de denúncia de Giselle Santos Magalhães, de 37 anos, que se dedicou à vaga desde quando fez o doutorado, em 2012. Ela teve a maior pontuação nos títulos (currículos), com 95 pontos. Contudo, a desclassificação ocorreu na apresentação do seminário, que ela reforça ser “parcialmente subjetiva”.
A advogada Isabela Corby representa Giselle. Segundo ela, a fase recursal ainda está em andamento, e a universidade tem até o próximo dia 24 para responder. Contudo, a decisão de refazer a etapa deve ser comemorada. “É uma vitória, mas não é total, porque na decisão não está explícito se a UFMG se propõe a modificar a banca de avaliação”, avalia.
Na resposta para o recurso de sua cliente, a advogada espera conseguir acesso “às atas e aos vídeos” do processo seletivo. “Precisamos analisar”, diz. Isabela também deseja que o caso sirva de exemplo para que situações como essa não se repitam futuramente. “Nossa expectativa é de que haja comprometimento da instituição, reconhecimento de que errou e compromisso no letramento racial, adequado e robusto”, conclui.
Em posicionamento anterior, a UFMG garantiu que as desclassificações dos candidatos negros foram pautadas em critérios técnicos e, por isso, a vaga foi “revertida para ampla concorrência”. A instituição também se disse comprometida com “adoção de ações afirmativas” para “promover o acesso e a permanência de grupos socialmente discriminados no ambiente acadêmico”.
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