Família busca repatriação de arquiteta de BH presa no Camboja em possível caso de tráfico humano

A família da arquiteta belo-horizontina Daniela Costa, de 35 anos, luta há seis meses para conseguir a repatriação da jovem, presa no Camboja, na Ásia, após ser vítima de um esquema internacional de tráfico humano. Segundo relatos da mãe, Myriam Costa, de 65 anos, Daniela foi atraída por uma falsa proposta de emprego e acabou detida depois de se recusar a participar de atividades ilegais. A família afirma que criminosos plantaram drogas no alojamento onde ela estava hospedada para incriminá-la.

A proposta, recebida por Daniela em janeiro deste ano, prometia um cargo de telemarketing com moradia, alimentação e salário entre US$ 1 mil e US$ 2 mil. Em busca de estabilidade financeira, ela aceitou a oferta e viajou ao Camboja no fim do mês. “Ela tentou trabalhar como corretora de imóveis aqui no Brasil, mas não deu certo. A remuneração era baixa e ela queria novas oportunidades”, contou Myriam.

Logo após a chegada, Daniela enviou fotos e vídeos do local de trabalho à família. A mãe, no entanto, desconfiou da situação. “O alojamento era precário, cheio de beliches e com aparência estranha. Naquele momento, ela ainda estava sozinha, esperando outras pessoas chegarem”, relatou.

Pouco tempo depois, os familiares foram vítimas de um golpe. Usando o telefone da arquiteta, criminosos se passaram por ela e pediram R$ 27 mil alegando que ela teria pedido demissão e precisava do dinheiro para comprar a passagem de volta. Após a transferência, o contato foi interrompido. “Percebi que algo estava errado porque as mensagens vinham com erros de escrita e ela não atendia mais as ligações”, afirmou a mãe.

No dia 30 de março, Myriam recebeu uma ligação da filha informando que havia sido presa. Segundo Daniela, os criminosos colocaram três cápsulas de droga no banheiro do alojamento e atribuíram a posse a ela. “Minha filha pediu exame toxicológico, mas a polícia não aceitou. Levaram todos os pertences dela — celular, notebook, tudo”, lamentou.

Desde então, a arquiteta está detida em uma cela com cerca de 90 pessoas, onde enfrenta condições insalubres. “Elas dormem por turno, porque não há espaço para todas. O banho é de caneca e, para comer, precisa comprar a própria comida. Ela teve uma infecção e ficou dias sem atendimento. Chegou a passar 48 horas sem comer nem beber”, contou a mãe.

A família afirma ter procurado o Itamaraty e outras autoridades brasileiras em busca de ajuda, mas ainda aguarda retorno efetivo. “Se houvesse mais oportunidades aqui, nossos filhos não precisariam buscar trabalho em lugares tão distantes e perigosos”, desabafou Myriam.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores confirmou que acompanha o caso e que a Embaixada do Brasil em Bangkok, responsável pela assistência no Camboja, está em contato com o governo local. O Itamaraty destacou que presta suporte consular às vítimas de tráfico humano e reforçou os alertas publicados desde 2022 sobre o aliciamento de brasileiros para o Sudeste Asiático.

De acordo com o ministério, 63 brasileiros receberam assistência em 2024 em situações de tráfico de pessoas — 41 deles no Sudeste Asiático. A pasta reforçou que, em respeito à privacidade dos envolvidos, não divulga detalhes de casos individuais, mas mantém canais de atendimento abertos a cidadãos brasileiros em situação de risco no exterior.