A nova tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para produtos brasileiros começa a afetar a indústria nacional mesmo antes de sua implementação oficial. Em Minas Gerais, o impacto já é concreto: ao menos cinco usinas produtoras de ferro-gusa interromperam ou se preparam para suspender as atividades por conta do cancelamento de pedidos de importadores norte-americanos.
Responsável por empregar cerca de 10 mil pessoas diretamente, o setor de ferro-gusa é estratégico para a economia mineira. Em 2024, o estado produziu 3,8 milhões de toneladas da matéria-prima do aço, das quais 68% foram exportadas — sendo 84% desse volume destinado exclusivamente aos EUA. A perda repentina desse mercado expõe a fragilidade da dependência comercial e ameaça toda a cadeia produtiva, incluindo fornecedores de carvão vegetal e transporte.
A empresa Fergubel, sediada em Matozinhos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, colocou 120 dos 144 funcionários em férias coletivas. Inicialmente previstas para durar 15 dias, as férias podem ser estendidas, segundo o CEO da companhia, André Ribeiro Chaves. “Entre 80% e 90% da nossa produção vão para os EUA. Na semana passada, um comprador ligou e suspendeu as entregas do outro dia. Estou com as esperanças um pouco perdidas”, desabafa.
Situação semelhante é vivida pela Sama Siderurgia, em Sete Lagoas. A empresa irá desligar seu alto-forno nesta quarta-feira (30/7) e colocará até 120 de seus 150 empregados em licença. O gerente industrial Thiago Valente explica que 95% da produção da empresa vai para exportação, quase toda para os Estados Unidos. Um contrato de mil toneladas, avaliado em US$ 400 mil, foi cancelado com a produção já iniciada.
Outra siderúrgica da mesma cidade, a Multifer, ainda não paralisou as atividades, mas o proprietário Willian Reis está em alerta. Com esperança de que as tarifas sejam revistas, ele também destaca a preocupação com a chegada do período chuvoso, que dificulta a produção de carvão. “Se as tarifas caírem, o mercado volta a consumir. Mas há muitos fatores de risco”, afirma.
O temor do setor é que, se as tarifas forem aplicadas no patamar prometido, os compradores americanos não tenham como arcar com os custos extras, tampouco as empresas brasileiras consigam absorvê-los, tornando as negociações inviáveis.
Além das tarifas, a indústria brasileira também enfrenta concorrência desleal no próprio mercado interno. A entrada em massa de aço chinês tem provocado quedas nos preços e ameaçado a viabilidade das siderúrgicas nacionais. Em resposta, o governo federal prorrogou a alíquota de importação de 25% sobre diversos produtos siderúrgicos.
Na tentativa de buscar soluções, empresários se reuniram nesta terça-feira (29/7), em Brasília, com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Também é aguardado um encontro com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. As lideranças do setor esperam apoio tributário e institucional para tentar redirecionar a produção e abrir novos mercados enquanto o impasse com os Estados Unidos persiste.
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