
O endividamento público do Brasil alcançou um novo recorde histórico ao longo de 2025, consolidando um dos principais desafios econômicos do atual governo. Dados da Receita Federal indicam que, em outubro, a dívida pública nominal chegou a cerca de R$ 8,5 trilhões, o equivalente a 78,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Já os cálculos do Banco Central do Brasil apontam que a dívida do setor público consolidado atingiu aproximadamente R$ 9,75 trilhões no mesmo período.
Considerada um dos principais indicadores de solvência de um país, a dívida pública vem crescendo em ritmo acelerado, em um contexto marcado pela manutenção da taxa básica de juros em níveis elevados e pelas dificuldades de equilíbrio das contas públicas. Analistas observam que o cenário impõe obstáculos adicionais ao cumprimento das metas fiscais estabelecidas pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja própria equipe econômica já admitiu a possibilidade de forte deterioração das contas a partir de 2027, caso não haja correções.
Uma das principais tentativas de conter o avanço do endividamento foi a adoção do chamado arcabouço fiscal, aprovado em 2023 para substituir o teto de gastos. O novo modelo estabelece regras para o crescimento das despesas públicas, mas tem sido alvo de flexibilizações, com a exclusão de determinados gastos do cálculo do resultado primário, o que, segundo especialistas, reduz sua capacidade de frear o aumento da dívida.
O crescimento das despesas obrigatórias também contribui para a pressão sobre o endividamento. Além dos gastos constitucionais com saúde e educação, o reajuste do salário mínimo acima da inflação ampliou despesas previdenciárias e sociais, gerando efeitos em cadeia sobre o Orçamento. Em relatório recente, o Instituto Fiscal Independente (IFI), ligado ao Senado Federal, avaliou que a expansão dessas despesas, somada à fragilidade das medidas de contenção, torna mais difícil o cumprimento das metas fiscais do governo central.
O Ministério da Fazenda, por sua vez, aponta fatores específicos para explicar o avanço do endividamento, como a incorporação de precatórios herdados de gestões anteriores, a compensação financeira aos estados após a redução do ICMS sobre combustíveis, energia e serviços essenciais em 2022, além dos gastos extraordinários relacionados às enchentes no Rio Grande do Sul.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, atribui o principal peso do aumento da dívida à política monetária restritiva. Segundo ela, a taxa Selic, atualmente em torno de 15% ao ano e no maior nível em duas décadas, é responsável por quase metade do estoque da dívida estar indexada aos juros básicos. Para a ministra, o custo elevado dos juros compromete o crescimento econômico e limita a capacidade do governo de investir e manter políticas públicas.
O debate sobre a trajetória da dívida segue no centro das discussões econômicas, com avaliações divergentes entre técnicos do governo e analistas independentes sobre as causas do problema e os caminhos possíveis para estabilizar o endividamento nos próximos anos.
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