O presidente da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), Carlos Roberto Ferreira Lopes, foi preso em flagrante na madrugada desta terça-feira (30), durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. A ordem foi dada pelo presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG), sob a acusação de que Lopes teria mentido aos parlamentares ao negar irregularidades na atuação da entidade.
Segundo Viana, Lopes descumpriu o compromisso de falar a verdade e omitiu informações relevantes sobre as operações da Conafer. Para o senador, a conduta configura crime de falsidade ideológica. Após ser levado à Polícia Legislativa do Senado, o dirigente foi liberado por volta das 4h da manhã, depois de prestar depoimento e pagar fiança. O valor não foi informado oficialmente.
Durante a sessão, Lopes negou participação em fraudes relacionadas a descontos em benefícios do INSS, mas disse não ter conhecimento detalhado sobre operações de pessoas e empresas ligadas à confederação. Em alguns momentos, entrou em confronto direto com o relator da CPI, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), que o questionou sobre a suspeita de que dados de pessoas falecidas teriam sido usados para ampliar os descontos. “É padrão da Conafer ressuscitar mortos para conseguir descontos associativos?”, perguntou Gaspar. Lopes reagiu: “É padrão do INSS ter defuntos recebendo benefícios?”.
O relator insistiu na questão, ao que Lopes, em tom irônico, respondeu: “Se o morto tiver recebido benefícios, pelo jeito sim”. Mais adiante, voltou atrás e afirmou ter se surpreendido com as informações apresentadas. “A Conafer tem 8 milhões de associados. Esses casos muito me estranham. Fico espantado por estar arrecadando em cima de defunto e por defunto receber benefícios do INSS. É tão escrachante para mim quanto para os senhores”, declarou.
As investigações da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) apontam que a Conafer liderou os descontos irregulares entre 2019 e 2024. O montante movimentado pela entidade saltou de R$ 400 mil para R$ 277 milhões no período. De acordo com os investigadores, parte dos valores teria sido repassada a Lopes.
Mandados de busca e apreensão também foram cumpridos contra operadores financeiros ligados à confederação, como Cícero Marcelino e Ingrid Pikinskeni. Os órgãos de controle apuram se os repasses e os descontos fraudulentos foram feitos de forma sistemática e se envolvem outros dirigentes.
A CPMI do INSS segue colhendo depoimentos e deve aprofundar a apuração sobre o papel da Conafer no esquema. A prisão de Carlos Lopes, ainda que seguida de liberação mediante fiança, gerou repercussão no Congresso e elevou a tensão nas sessões da comissão.
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