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Documentos indicam que ex-delegado assassinado em SP seguia como alvo do PCC

Relatórios revelam que Ruy Ferraz Fontes, executado em Praia Grande, ainda era monitorado pela facção criminosa mesmo após a aposentadoria

22/09/2025 às 09h30
Por: Bianca Guimarães
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Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, em Praia Grande, litoral paulista, trouxe à tona novos elementos sobre a atuação do crime organizado no estado. Documentos obtidos pelo Fantástico neste domingo (21) mostram que, mesmo aposentado, ele continuava na mira do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ruy foi morto em uma emboscada quando já atuava como secretário de Administração da cidade, cargo que assumiu em 2023.

O histórico de Ruy é marcado pelo enfrentamento direto à facção criminosa. Ingressou na Polícia Civil nos anos 1980 e ganhou notoriedade ao liderar a prisão de Marcos Willian Camacho, o Marcola, em 1999. Já em 2006, esteve à frente das investigações dos ataques coordenados pelo PCC em São Paulo. Durante sua gestão como delegado-geral, entre 2019 e 2022, determinou a transferência de 22 líderes da facção para presídios federais de segurança máxima e acompanhou a prisão do grupo conhecido como “Bonde dos 14”. Ele mesmo admitiu, em audiência na época, que seu nome constava em listas de alvos da organização.

Um relatório elaborado em 2024, chamado “Bate Bola”, reforça que os planos de atentados continuaram mesmo após sua saída da polícia. As ordens, segundo o Ministério Público, partiam de dentro dos presídios e eram transmitidas por meio de códigos repassados por advogados e familiares de presos. O promotor Lincoln Gakiya, também citado no documento como alvo, relatou que Ruy reconhecia sua vulnerabilidade por não contar com escolta após a aposentadoria. Em entrevistas, ele já havia demonstrado preocupação com a falta de proteção e afirmado viver sozinho em uma região considerada reduto da facção.

As investigações sobre o assassinato resultaram até o momento na prisão de quatro suspeitos: Daeshly Oliveira Pires, acusada de transportar um dos fuzis usados no crime; Luiz Henrique Santos Batista, o “Fofão”, suspeito de ajudar na fuga; Rafael Dias Simões, que se entregou à polícia e teria participado diretamente da execução; e Willian Marques, dono da casa usada como base pela quadrilha. Outros três continuam foragidos.

As defesas de alguns dos acusados negam envolvimento, enquanto autoridades de segurança reforçam a ligação do caso com a facção criminosa. O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Muraro Derrite, afirmou que não há dúvida sobre a participação do PCC, ainda que a motivação exata siga em apuração. O promotor Lincoln Gakiya acrescentou que dificilmente a execução teria ocorrido sem a anuência da cúpula da facção.

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