O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a prisão de Marcelo Câmara, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro e um dos réus no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado. A ordem de prisão foi expedida nesta quarta-feira (18) após o magistrado concluir que Câmara violou medida cautelar que o impedia de utilizar redes sociais, inclusive por meio de terceiros, como advogados.
A decisão veio após relato do advogado de Câmara, Eduardo Kuntz, que informou ao STF ter sido procurado por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, por meio do Instagram. Na conversa, que segundo Kuntz teria começado em janeiro de 2023, Cid enviou uma foto para confirmar sua identidade e desabafou sobre os depoimentos prestados no âmbito da delação premiada, alegando que investigadores da Polícia Federal teriam tentado induzi-lo a usar a palavra "golpe" ao relatar os fatos.
Moraes entendeu que houve tentativa de acessar informações protegidas sobre a colaboração premiada de Cid, o que poderia configurar obstrução de justiça. Na decisão, o ministro afirmou que o advogado "transbordou ilicitamente das obrigações legais de advogado" e classificou a conduta como "gravíssima". Além da prisão de Câmara, Moraes determinou a abertura de inquérito para investigar tanto o réu quanto seu defensor.
A Polícia Federal já cumpriu o mandado de prisão, conforme informou o STF. O caso reacende a disputa em torno da validade das delações e do conteúdo das investigações que envolvem figuras próximas ao ex-presidente Bolsonaro. A defesa de Câmara tenta anular a colaboração premiada de Mauro Cid com base no argumento de que os depoimentos não teriam sido espontâneos. Já o próprio Cid, ao ser interrogado por Moraes na semana passada, negou ter usado redes sociais para se comunicar com investigados e afirmou não saber se o perfil @gabrielar702 — usado na conversa — pertencia à sua esposa, Gabriela Cid.
A prisão de Marcelo Câmara aprofunda as tensões em torno da investigação sobre tentativa de golpe, que se arrasta desde que documentos e depoimentos passaram a sugerir o envolvimento de altos membros do governo anterior em um plano para reverter o resultado das eleições de 2022.
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