As fraudes envolvendo o Pix cresceram de forma alarmante em 2024, causando prejuízos que já somam R$ 4,941 bilhões, segundo dados do Banco Central obtidos pelo Broadcast via Lei de Acesso à Informação. O valor representa um aumento de 70% em comparação ao ano anterior, quando as perdas chegaram a R$ 2,911 bilhões. Os dados refletem devoluções de valores solicitadas por vítimas e instituições financeiras após a constatação de golpes, mas que não puderam ser concretizadas por diferentes motivos — principalmente porque as contas que receberam o dinheiro já estavam zeradas ou encerradas no momento do pedido de retorno.
Até o momento, cerca de 3,45 milhões de solicitações de devolução foram rejeitadas, um indicativo preocupante da crescente sofisticação dos esquemas criminosos. As notificações de fraude saltaram para uma média mensal superior a 390 mil em 2024, mais que o dobro do registrado no ano anterior. Só em janeiro, último mês com dados consolidados, mais de 324 mil notificações foram consideradas procedentes pelas instituições financeiras. Entre os principais tipos de fraude registrados estão transações iniciadas sob coerção, sem autorização do titular ou realizadas mediante golpes de engenharia social.
Apesar do aumento expressivo, as perdas representam apenas 0,019% do total movimentado pelo Pix em 2024 — um volume que chegou a R$ 26,4 trilhões. Ainda assim, o prejuízo absoluto chama atenção e expõe fragilidades do sistema, sobretudo na ponta final, onde se concentram as dificuldades para rastrear e recuperar os valores.
Grande parte das contas utilizadas para receber os valores fraudulentos são conhecidas como “contas-laranja” ou “contas de passagem” — abertas ou cedidas por usuários em troca de dinheiro, muitas vezes em grupos de redes sociais e aplicativos de mensagens. Essas contas são utilizadas para movimentar os valores de forma rápida, dificultando o rastreamento até o beneficiário final. Em alguns casos, segundo especialistas em segurança bancária, os criminosos pagam até R$ 10 mil para "alugar" essas contas, sendo as mais valorizadas aquelas com limites altos ou crédito disponível.
De acordo com o superintendente de Segurança Corporativa do Itaú Unibanco, Victor Thomazetti, o empréstimo de contas ocorre majoritariamente de forma consciente, o que revela um novo desafio para as instituições: lidar com a conivência de parte dos próprios usuários com o crime. Além disso, fraudes envolvendo falsidade ideológica na abertura de contas, embora menos comuns, seguem sendo um dos principais problemas de segurança do sistema, segundo o executivo.
O Banco Central, que não comentou os dados até o fechamento da reportagem, já havia intensificado o monitoramento de processos de verificação de identidade desde 2022, quando realizou uma fiscalização ampla no mercado. Ainda assim, o volume de fraudes segue crescendo, alimentado por brechas nos mecanismos de segurança digital e pela facilidade de criação e movimentação de contas.
Segundo os dados obtidos, em mais de um terço dos casos de fraude registrados neste ano, a conta que recebeu os valores estava no nome do próprio fraudador — o que o sistema classifica como “scammer account”. Outras 27% foram designadas como “mule account”, o equivalente às contas-laranja. Apenas 1% dos casos envolviam fraudes na abertura da conta, mas uma parte significativa, cerca de 35%, foi classificada de forma genérica por outros tipos de irregularidades, sem detalhamento público.
Enquanto isso, o setor financeiro defende a adoção de medidas mais duras, incluindo punições para usuários que cedem contas conscientemente, com possibilidade de banimento do sistema bancário por até cinco anos. Instituições como o Itaú afirmam que encerram imediatamente qualquer conta identificada como veículo para fraudes, mas reconhecem que a velocidade das transações e a adesão de usuários ao esquema tornam o combate ainda mais complexo.
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