Com a morte do Papa Francisco, a Igreja Católica se prepara para iniciar, nas próximas semanas, o Conclave — processo de escolha do novo pontífice, que reúne cardeais de todo o mundo em um rito reservado e conduzido sob rígidas tradições. Conforme as normas estabelecidas pelo Papa João Paulo II em 1996, o Conclave deve começar entre 15 e 20 dias após a morte ou renúncia de um Papa, período no qual os cardeais permanecem em Roma discutindo o futuro da Igreja e refletindo sobre o perfil necessário para conduzi-la nos próximos anos.
Atualmente, o Colégio de Cardeais conta com 252 membros, dos quais 138 têm menos de 80 anos e, portanto, são eleitores com direito a voto. O restante, 115, não participa da votação por já ter ultrapassado o limite etário determinado pelo Vaticano. Todos os cardeais eleitores se reúnem em regime de clausura, alojados na “Domus Sanctae Marthae”, na Cidade do Vaticano, onde permanecem isolados até a definição do novo Papa. Durante o período que antecede o Conclave, são realizadas as chamadas Congregações Gerais, reuniões preparatórias em que os cardeais dialogam sobre os desafios da Igreja e o perfil desejado para o próximo pontífice.
Segundo o jornalista e especialista em Vaticano Filipe Domingues, que também é diretor do Lay Centre em Roma, o processo desta vez pode ser mais demorado do que em eleições anteriores. Isso porque a maioria dos cardeais com direito a voto foi nomeada pelo próprio Papa Francisco, durante seu pontificado. “O Papa nomeou muitos cardeais novos, muitos deles vindos de regiões onde nunca houve cardeais antes. São religiosos com perfil pastoral, mais próximos do povo, atentos à devoção popular, e não tão ligados ao ambiente acadêmico ou burocrático da Cúria Romana. O desafio é que muitos não se conhecem entre si, o que pode tornar a votação mais pulverizada”, avalia.
As votações no Conclave ocorrem dentro da Capela Sistina, onde os cardeais depositam seus votos em cédulas escritas à mão, em sessões realizadas duas vezes ao dia — uma pela manhã e outra à tarde. Para ser eleito, o candidato precisa obter dois terços dos votos válidos. Três cardeais são escolhidos como escrutinadores, responsáveis pela contagem dos votos e pela incineração das cédulas após cada rodada. A fumaça gerada por essa queima é um dos sinais mais emblemáticos do processo: preta quando não há consenso, branca quando um novo Papa é escolhido e aceita o cargo.
Caso a eleição se prolongue por mais de três dias sem definição, há uma pausa para oração e reflexão. Se, mesmo após sete votações subsequentes, ainda não houver um eleito, os cardeais podem ser convidados a avaliar outros caminhos dentro das regras estabelecidas, incluindo uma votação entre os dois nomes mais votados na rodada anterior, exigindo-se então apenas maioria absoluta.
Mín. 18° Máx. 29°