Em um gesto que foi lido nos bastidores da política mineira como um aceno direto ao presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Tadeu Martins Leite (MDB), o governo Romeu Zema (Novo) anunciou, na última sexta-feira (11), a revisão do modelo de concessão das rodovias do Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O recuo parcial acontece em meio à crescente pressão de parlamentares e da sociedade civil contra a instalação de 13 praças de pedágio em um trecho de mais de 124 quilômetros e, sobretudo, após Tadeuzinho cobrar publicamente, dias antes, a criação de uma tarifa única para motoristas que utilizam os mesmos trechos mais de uma vez ao dia.
A nota oficial do governo, que comunicou a revisão do projeto, fez menção direta ao presidente da ALMG, destacando a "sensibilidade do governo de Minas à comunidade e ao pedido do presidente da ALMG, Tadeu Martins Leite". O próprio governador também gravou um áudio mencionando Tadeuzinho nominalmente, reforçando a percepção de que a decisão foi, em parte, uma resposta ao Legislativo. A medida chega em um momento de desgaste da relação entre os dois Poderes, especialmente após movimentos de Tadeuzinho para fortalecer sua base de apoio dentro da Assembleia.
Desde a publicação do edital de concessão, duas propostas que visam proibir a cobrança de pedágio em regiões metropolitanas – uma apresentada pelo deputado Bruno Engler (PL) e outra pela deputada Bella Gonçalves (PSOL) – aguardam andamento na Comissão de Constituição e Justiça, presidida por Doorgal Andrada (PRD), aliado de Tadeuzinho. O avanço desses projetos tem causado desconforto no Palácio Tiradentes, que teme uma derrota política em um tema sensível. Ainda em fevereiro, o presidente da ALMG articulou a ocupação estratégica de comissões importantes, como a de Administração Pública, agora presidida por Adalclever Lopes (PSD), outro aliado, sinalizando um possível endurecimento do Legislativo frente ao Executivo.
A revisão da tarifa foi celebrada por aliados de Tadeuzinho como uma vitória política. Segundo interlocutores, embora o presidente da ALMG não seja contrário à existência de pedágios nas rodovias estaduais, ele tem defendido abertamente um modelo mais justo para quem trafega cotidianamente nos trechos pedagiados, como taxistas, motoristas de aplicativo e entregadores. Em suas declarações públicas, o parlamentar ressaltou a necessidade de avanços no sentido de reduzir os impactos para esses trabalhadores.
Nos bastidores, o anúncio também é visto como uma tentativa de evitar a paralisação de outros projetos de interesse do governo, como a criação da Artemig, agência estadual que fiscalizará as concessões de rodovias. Apesar de ser uma proposta do próprio Executivo, a matéria ganhou força a partir da pressão de deputados que enfrentavam críticas em suas bases eleitorais por conta da pedagiamento de estradas. Aprovada em primeiro turno com apoio unânime, a proposta depende agora da liberação da pauta, trancada por vetos do governador, cuja derrubada ou manutenção só será decidida em sessões marcadas para os dias 23 e 24 de abril.
Enquanto isso, o governo ainda não divulgou detalhes do novo edital do Vetor Norte. A Secretaria de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias limitou-se a informar que “o projeto está sendo revisado” e que “o novo edital será publicado em breve”. O Tribunal de Contas do Estado também cobrou esclarecimentos sobre o modelo de concessão, o que deve acelerar a apresentação das mudanças previstas para o início da próxima semana.
A movimentação de Zema ocorre após o vice-governador, Mateus Simões (Novo), já ter admitido publicamente a possibilidade de ajustes no modelo original, alegando preocupação com o impacto sobre os usuários que utilizam os trechos com frequência. A fala foi dada há cerca de um mês, durante entrevista à Band Minas, e antecipou a guinada agora oficializada pelo governo.
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