Cientistas, engenheiros e urbanistas propõem um roteiro para prevenir desastres como o que deixou mais de 160 mortos no Rio Grande do Sul.
A estratégia envolve estudos detalhados das áreas de risco, planos de ação prioritários, obras de infraestrutura e planos de contingência. É essencial alterar a ocupação das margens de rios, ampliando áreas verdes, com o objetivo de intensificar a manutenção de diques e melhorar os sistemas de alerta.
As autoridades também precisam desenhar planos de contingência para que os órgãos públicos e a população saibam exatamente o que fazer quando vier a próxima chuva forte.
"Os cursos d'água sempre representaram um obstáculo à urbanização: as cidades cresciam, se desenvolviam, e quando chegavam na beira do rio era canalizado, desviado, tamponado ou assoreado. E obviamente isso vai gerar um impacto", diz o arquiteto e urbanista William Mog, pós-doutorando na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
A receita para o desastre das enchentes é conhecida há décadas pelos especialistas. A pavimentação de concreto e asfalto faz com que a água seja canalizada com mais velocidade, facilitando o transbordamento em vez de amortecer a chuva (o que é feito pela vegetação e pelo solo). Canalizações malfeitas, barreiras e aterramentos podem agravar o problema, empurrando a águas para áreas vizinhas.
A coordenação entre municípios é crucial, dada a abrangência das bacias hidrográficas.
"Fica muito claro que sempre a população de baixa renda é mais afetada, e isso chama atenção para um instrumento [de política pública] muito importante, que é a regularização fundiária", diz a arquiteta Heleniza Campos, professora do Programa de Pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional da UFRGS. "Muitas vezes essa regularização acaba se voltando contra a população, porque ela vai acabar ficando numa área inadequada para moradia."
O professor Carlos Tucci defende que o recente desastre sirva para centralizar a gestão de inundações no debate público, propondo reformas nos sistemas de prevenção.
Giovanni Dolif, do Cemaden, destaca a importância do monitoramento climático e da capacitação das equipes municipais.
Essas medidas visam transformar a resposta a desastres naturais, protegendo melhor a população e adaptando as cidades às mudanças climáticas.
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