
A Justiça de Minas Gerais aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público contra uma servidora da Polícia Civil suspeita de desviar armas de fogo, dinheiro e outros bens apreendidos em procedimentos policiais. A decisão foi proferida pelo juiz Alexandre Magno de Resende Oliveira, da 2ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte, e formaliza a abertura da ação penal contra a investigada.
Com o recebimento da denúncia, o magistrado considerou presentes os requisitos legais para o prosseguimento do processo, como indícios suficientes de autoria e materialidade, além da regularidade formal da acusação. A partir de agora, a analista da Polícia Civil passa a responder como ré e deverá ser citada para apresentar resposta à acusação no prazo de dez dias, conforme prevê a legislação.
Segundo o Ministério Público, a servidora atuava no setor de protocolo da 1ª Delegacia de Polícia do Barreiro e tinha acesso direto à sala de acautelamento de materiais, local onde são armazenadas armas, valores em dinheiro e objetos apreendidos durante investigações. Apenas ela e uma escrivã detinham a chave do espaço. As suspeitas surgiram após a apreensão, em Contagem, de uma arma que constava como custodiada na delegacia e, posteriormente, com a instauração de um inventário que apontou o desaparecimento de cerca de 200 armas de fogo e valores em dinheiro.
De acordo com a apuração, em um dos invólucros que deveria conter R$ 1.908, os servidores encontraram apenas o envelope violado e vazio. Outros pacotes lacrados também estavam abertos, inclusive dentro de um armário trancado que não era de conhecimento dos demais funcionários. A situação foi novamente constatada em uma verificação realizada semanas depois.
Imagens de câmeras de segurança anexadas à investigação mostram a servidora entrando e saindo da unidade policial em diferentes datas, carregando bolsas e sacolas volumosas. Para o Ministério Público, os registros coincidem com movimentações de veículos nas proximidades da delegacia. Em um dos episódios, a investigada teria transferido objetos do porta-malas do carro que utilizava para outro veículo, conduzido por um homem não identificado.
Testemunhas relataram que, a partir de 2019, a servidora teria assumido sozinha o controle do protocolo e da sala de materiais, tornando-se responsável exclusiva pelo registro e guarda dos itens no sistema eletrônico, sem repasse regular das informações a outros servidores. A investigação também apontou um aumento repentino no padrão de vida da analista, com viagens internacionais, aquisições de alto valor, procedimentos estéticos e a mobília de um apartamento em curto intervalo de tempo, sem compatibilidade aparente com a remuneração do cargo público.
Os elementos reunidos embasaram a denúncia por peculato em continuidade delitiva. Na decisão, o juiz determinou ainda que a Polícia Civil encaminhe, no prazo de cinco dias, laudos técnicos solicitados ao longo da investigação. Após a apresentação da defesa, o Ministério Público deverá se manifestar sobre pedidos formulados pelos advogados da ré, dando continuidade à tramitação do processo.
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