O número de casos de coqueluche voltou a crescer de forma expressiva no Brasil, acendendo um alerta para autoridades e profissionais de saúde sobre a necessidade de intensificar a vacinação infantil. Segundo o Observatório de Saúde na Infância, os registros da doença em crianças aumentaram mais de 1.200% em 2024, totalizando 2.152 casos entre menores de cinco anos — mais do que a soma dos cinco anos anteriores. Desses, 665 precisaram de internação hospitalar e 14 morreram, superando as dez mortes registradas entre 2019 e 2023.
A coqueluche, também conhecida como tosse comprida, é uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis. A doença é altamente contagiosa e pode ser grave, especialmente em bebês. A imunização é feita com a vacina pentavalente, aplicada aos dois, quatro e seis meses de idade. Já as gestantes devem receber a DTPa durante cada gestação, garantindo a proteção dos recém-nascidos até que possam iniciar o esquema vacinal.
Os dados, coletados por pesquisadores da Fiocruz e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (Unifase), indicam que mais da metade dos casos de 2023 ocorreram em crianças com menos de um ano, que também representam mais de 80% das internações. De acordo com a coordenadora do Observatório, Patrícia Boccolini, o aumento pode estar relacionado a diversos fatores, como a retomada do ciclo natural da doença no pós-pandemia, falhas nos serviços de saúde locais e desigualdade na cobertura vacinal entre os municípios.
Embora o Ministério da Saúde informe que mais de 90% dos bebês e 86% das gestantes tenham recebido as vacinas contra a coqueluche no ano passado — índices superiores aos de 2013 —, a meta de 95% de cobertura ainda não foi atingida. Boccolini alerta que a desigualdade regional é um desafio importante. “Quando observamos os dados municipais, há locais com alta cobertura, enquanto outros estão bem abaixo do ideal. Essa heterogeneidade aumenta o risco de surtos localizados”, destacou.
A tendência de aumento dos casos não é exclusiva do Brasil. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) informou que, nos primeiros sete meses de 2025, nove países das Américas notificaram mais de 18 mil casos e 128 mortes em todas as faixas etárias.
Segundo Juarez Cunha, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o crescimento segue um padrão cíclico global. “A coqueluche apresenta surtos periódicos a cada oito ou dez anos. Mesmo com a melhora recente das coberturas vacinais, enquanto não atingirmos as metas, veremos novos aumentos de casos”, explicou.
Cunha reforça que vacinar gestantes é uma das estratégias mais eficazes para reduzir a mortalidade infantil. “O bebê só estará totalmente protegido após os seis meses de idade, quando completar o esquema vacinal. Por isso, a imunização da gestante é fundamental para garantir os anticorpos necessários nos primeiros meses de vida”, afirmou.
Para especialistas, o aumento dos casos também reflete a perda da percepção de risco entre a população. “Muitos pais nunca ouviram falar em coqueluche porque, por muito tempo, a vacinação manteve a doença sob controle. Agora, esses números servem de alerta para retomarmos o compromisso com a prevenção”, concluiu Patrícia Boccolini.
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