Um relatório da Polícia Federal (PF) aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) movimentou mais de R$ 30,5 milhões em um período de doze meses, entre março de 2023 e fevereiro de 2024. De acordo com o documento, elaborado a partir de informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e dados do Banco do Brasil, o valor creditado em suas contas é praticamente o mesmo retirado no mesmo intervalo, levantando suspeitas sobre a origem e o destino dos recursos.
As investigações fazem parte de um inquérito que também envolve o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e apuram possíveis irregularidades financeiras. O relatório destaca que houve repasses reiterados do ex-presidente para o filho, de maneira fracionada, o que, segundo a PF, poderia indicar tentativa de evitar mecanismos de controle.
Outro ponto observado é o grande volume de saques em dinheiro vivo. Entre janeiro e julho de 2025, Bolsonaro teria realizado 40 operações em caixas eletrônicos e guichês, somando R$ 130,8 mil. Para a PF, a prática, embora não configure crime por si só, é considerada um indício relevante de risco, por dificultar a rastreabilidade e abrir margem para o financiamento de possíveis atividades ilícitas.
Os registros indicam que, do montante recebido, R$ 19,2 milhões vieram de transações via Pix, R$ 8,7 milhões de resgates de CDB/RDB, R$ 1,3 milhão de operações de câmbio e cerca de R$ 373 mil de proventos. Entre os valores que saíram das contas, R$ 18,3 milhões foram destinados a aplicações, R$ 7,5 milhões em transferências bancárias, além de pagamentos de impostos, contas de consumo, compras e honorários advocatícios.
Entre os beneficiários, estão os advogados Paulo Cunha Bueno e o escritório DB Tesser, que juntos receberam cerca de R$ 6,6 milhões, além de empresas de engenharia e arquitetura. Também foram identificadas transferências para Michelle Bolsonaro e para o filho Jair Renan, vereador em Balneário Camboriú (SC).
No período seguinte, de fevereiro de 2024 a agosto de 2025, Bolsonaro recebeu R$ 1,7 milhão e gastou R$ 1,3 milhão, incluindo pagamentos a familiares, assessores e advogados. O ex-presidente e Eduardo Bolsonaro foram indiciados na quarta-feira (20/8) pela PF por suspeita de coação e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Bolsonaro cumpre prisão domiciliar por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que também determinou a apreensão de celulares e restrição ao uso de redes sociais.
Até o momento, a defesa do ex-presidente não se manifestou.
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