Pela primeira vez na história da astronomia, cientistas conseguiram observar uma estrela engolindo um planeta. O registro inédito foi feito pelo Telescópio Espacial James Webb, da NASA, que flagrou o momento em que um planeta, com dimensões semelhantes às de Júpiter, foi tragado por uma estrela localizada na Via Láctea, a cerca de 12 mil anos-luz da Terra. O evento, que marca um novo capítulo no entendimento da evolução dos sistemas planetários, foi detalhado em estudo publicado no The Astrophysical Journal.
A observação surpreendeu os pesquisadores ao contrariar teorias anteriores sobre o fenômeno. Antes se acreditava que a estrela teria se expandido até envolver o planeta em sua atmosfera, como acontece quando astros semelhantes ao Sol entram em sua fase final e se tornam gigantes vermelhas. No entanto, as imagens em alta resolução no infravermelho captadas pelo Webb revelaram um cenário diferente: ao invés de ser engolido por uma estrela em expansão, o planeta teve sua órbita reduzida gradualmente ao longo de milhões de anos, aproximando-se fatalmente até ser absorvido.
O astrônomo Ryan Lau, principal autor do artigo, afirmou que o registro traz revelações importantes sobre o futuro de planetas que orbitam muito próximos de suas estrelas. “Com o olhar de alta resolução no infravermelho, estamos aprendendo informações valiosas sobre o destino final dos sistemas planetários, possivelmente incluindo o nosso”, destacou. O Telescópio James Webb, considerado o principal observatório espacial da atualidade, é fruto de uma colaboração entre a NASA, a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Espacial Canadense (CSA).
A estrela, ao contrário do que se imaginava, não era tão brilhante quanto uma gigante vermelha deveria ser, o que indicava que não havia passado por um processo de expansão para capturar o planeta. A análise detalhada do ambiente em volta do astro foi possível graças à sensibilidade do Webb, que conseguiu identificar emissões ocultas mesmo em uma região espacial muito densa. Com base nos dados, os cientistas concluíram que o planeta orbitava extremamente próximo da estrela — ainda mais perto do que Mercúrio orbita o Sol — e que, na fase final, começou a se desintegrar, espalhando gás ao redor do astro.
Morgan MacLeod, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica e do MIT, explicou que o gás expelido pelo planeta se misturou às camadas externas da estrela, criando um material rico em elementos pesados que se condensou em forma de poeira fria. Essa nuvem de poeira permaneceu ao redor da estrela, permitindo aos astrônomos analisarem os resíduos do cataclismo cósmico.
Para Colette Salyk, coautora do estudo e pesquisadora do Vassar College, o que mais surpreendeu foi a estrutura formada ao redor da estrela após o evento. “Eu diria que não esperava ver o que tem as características de uma região de formação de planetas, mesmo que os planetas não estejam se formando aqui”, afirmou.
A detecção abre um novo campo de investigação na astrofísica. Apesar de os cientistas já suspeitarem que eventos como esse ocorressem, é a primeira vez que um deles é documentado com clareza. “Esse é realmente o início do estudo desses eventos. É o único que observamos em ação, e essa é a melhor detecção das consequências depois que as coisas se acalmam”, disse Lau.
Agora, os pesquisadores esperam identificar novos casos semelhantes com a ajuda de observatórios do futuro, como o Vera C. Rubin e o Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, que serão capazes de monitorar grandes áreas do céu continuamente. A expectativa é que essas tecnologias revelem mais pistas sobre como estrelas e planetas interagem ao longo do tempo e qual o desfecho de sistemas como o nosso.
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