O Brasil registra um cenário desafiador na área de transplantes, com mais de 66 mil pessoas na fila de espera por órgãos, de acordo com o relatório do terceiro trimestre da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Em setembro, o número de pacientes aguardando por um transplante chegou a 66.517, um aumento de 13% em comparação ao mesmo período de 2023, quando 58.908 pessoas estavam na lista. A alta na fila de espera ocorre enquanto a taxa de doadores efetivos caiu para 20 por 1 milhão de habitantes (pmp), ficando 3,3% abaixo da meta nacional de 21 pmp para 2024.
Entre os principais fatores que dificultam o avanço das ações estão a recusa familiar, que representa 45% dos casos em que os órgãos não são doados, e a resistência médica, com 18% de contrariedade em alguns casos. Segundo a ABTO, enfrentar essas questões depende do “aprimoramento do acolhimento familiar e da flexibilização dos critérios de acessibilidade dos doadores limítrofes pelas equipes mais experientes”, com o objetivo de diminuir a quantidade de recusas e aumentar as doações efetivas.
Apesar dos desafios, a notificação de potenciais doadores apresentou avanço, atingindo 74,1 pmp, 5,9% acima da meta nacional de 70 pmp para o ano. Estados como Acre, Rondônia, Sergipe, Paraná e Distrito Federal se destacaram, ultrapassando uma taxa de notificação de 100 pmp. No entanto, a efetivação dessas notificações em doações efetivadas permanece um ponto crítico: a taxa nacional de efetivação de doações está em 27,4%, abaixo da meta de 30% para 2024.
Entre os órgãos mais transplantados, os rins lideram, com mais de 60 mil procedimentos realizados, seguidos pelo fígado, coração, pâncreas e respiração. No caso dos transplantes renais, a participação de doadores vivos superou a meta anual em 10%, mas ainda representa apenas 14,5% do total. Os transplantes hepáticos com doadores vivos acompanharam a meta, mas a taxa de doadores falecidos ficou reduzida aquém da expectativa. Já o cenário para transplantes cardíacos e pulmonares é ainda mais desafiador: o primeiro ficou 12,5% abaixo da meta, enquanto o segundo foi realizado em apenas quatro estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Ceará), com uma taxa de eficácia 50% inferior ao projetado.
A taxa de transplantes de pâncreas, por sua vez, ficou 22,3% abaixo da meta, sendo esses procedimentos realizados em apenas oito estados. Esses dados destacam o potencial e a necessidade de aprimoramentos no sistema de transplantes no Brasil, seja pela sensibilização das famílias, pelo aprimoramento dos protocolos médicos ou pelo fortalecimento da infraestrutura.
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