A Polícia Federal (PF) revelou que o ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, realizou uma série de movimentações para proteger seu patrimônio em meio ao escândalo contábil de mais de R$ 25 bilhões envolvendo a varejista. Gutierrez foi um dos principais alvos da Operação Disclosure, deflagrada nesta quinta-feira, 27 de junho, que investiga a fraude. Ele e a ex-diretora da Americanas, Anna Christina Ramos Saicali, tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça.
Ambos estão fora do país e são considerados foragidos, tendo seus nomes incluídos na lista dos mais procurados do mundo pela Interpol. Além dos dois mandados de prisão preventiva, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão contra outros ex-executivos do grupo.
Em um extenso documento, a Polícia Federal detalha que Miguel Gutierrez vinha se empenhando em blindar seu patrimônio logo após deixar seu cargo na Americanas, "sabendo que o escândalo iria explodir". As investigações apontam que ele criou um "engenhoso esquema societário" que envolvia o envio de diversas remessas de valores para offshores sediadas em paraísos fiscais.
"Os e-mails encontrados na conta institucional de Miguel Gutierrez revelam a criação de um engenhoso esquema societário, com diversas remessas de valores a offshores sediadas em paraísos fiscais", diz a PF no inquérito. Dias antes de deixar o cargo, Gutierrez estabeleceu um "desafio" de blindar seu patrimônio, com a premissa básica do "sigilo completo".
Segundo a PF, o plano de Gutierrez tinha duas etapas: a primeira, de longo prazo, visava a "reserva de valor" e a "sucessão"; a segunda, de curto prazo, focava na "blindagem patrimonial", ou seja, a "ocultação de patrimônio". Ele transferiu todos os imóveis em seu nome para empresas ligadas a seus familiares, mantendo apenas um imóvel como "bem de família".
As investigações também revelaram que Gutierrez remetia valores a empresas ligadas a ele e a seus familiares no exterior. Em e-mails, há referências a transferências de valores para sua esposa e contratos de mútuo entre empresas no Brasil e nas Bahamas, no valor de US$1,5 milhão.
Um assistente de investimentos de um banco europeu orientou Gutierrez, seu filho Tomás e sua esposa Maria sobre as movimentações da companhia Tombruan, empresa da família. As investigações indicam que o ex-CEO e seus familiares começaram a reformular suas sociedades empresariais em 2022, antes do escândalo vir à tona.
A PF justificou o pedido de prisão preventiva de Gutierrez alegando que ele e sua esposa viajaram para a Espanha em 29 de junho de 2023, "a fim de evitar qualquer responsabilização" pelo caso Americanas. Gutierrez, que tem nacionalidade brasileira e espanhola, remarcou sua passagem de volta ao Brasil, mas não retornou após tomar ciência das medidas cautelares contra ele.
"Ainda permanece ocultando patrimônio e provavelmente praticando outros atos de ocultação patrimonial, demonstrando a contemporaneidade dos ilícitos cometidos", afirmou a PF no inquérito.
A defesa de Miguel Gutierrez declarou que ele jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que tem colaborado com as autoridades. A assessoria de Anna Saicali não se posicionou.
Em nota, a Americanas afirmou: "A Americanas reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes. A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos."
A Operação Disclosure, deflagrada pela PF, visa investigar as fraudes contábeis nas Lojas Americanas, que totalizam R$ 25 bilhões. Agentes da PF cumpriram 15 mandados de busca e apreensão contra ex-executivos do grupo, e a 10ª Vara Federal Criminal determinou o bloqueio de R$ 500 milhões em bens dos envolvidos. Miguel Gutierrez e Anna Christina Ramos Saicali, que estão no exterior, foram incluídos na Difusão Vermelha da Interpol, a lista dos mais procurados do mundo.
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