
Entre montanhas, cores e histórias, a cidade de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ganhou uma nova paisagem cultural: o maior macro-mural do Brasil — e um dos maiores da América Latina. A obra, que ocupa cem casas coloridas na Vila São Luiz, é resultado da parceria entre o coletivo indígena MAHKU, do Acre, e o projeto CURA (Circuito Urbano de Arte), responsável por transformar prédios de Belo Horizonte em verdadeiras galerias a céu aberto.
A iniciativa marca a expansão do CURA para além da capital mineira, levando arte, cultura e regeneração urbana a novos territórios. “A Vila São Luiz e suas adjacências foram escolhidas por serem visíveis a partir do Espaço Cultural Piero Garzón, novo centro cultural da cidade. Isso reforça nosso conceito de ‘mirante’, onde a arte pode ser contemplada em sua totalidade”, explica Priscila Amoni, diretora do projeto e uma das idealizadoras do CURA.
O mural é assinado pelo coletivo MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), grupo do povo indígena do Acre que expressa, em suas pinturas, temas como cura, espiritualidade e a conexão entre todos os seres. Segundo a curadoria do projeto, a escolha do MAHKU representa “um encontro poético e político entre o urbano e o ancestral, entre a montanha mineira e a floresta amazônica”.
A proposta reforça o propósito do CURA de aliar arte, consciência ambiental e valorização das tradições indígenas. “É uma aliança simbólica que traduz nossa visão de regeneração urbana e defesa da floresta em pé”, ressaltou a curadoria.
Desde o início, o projeto foi construído com forte participação da comunidade local. O grupo Parangolé foi responsável pela mobilização social, envolvendo moradores em todas as etapas — da pintura das casas à logística do trabalho. Além disso, os alimentos consumidos pela equipe foram adquiridos de produtores da própria região, fortalecendo a economia local.
“Há um legado que vai muito além da arte nas paredes: o projeto movimenta a economia, desperta o turismo e reforça o sentimento de pertencimento na comunidade”, afirmam os organizadores do CURA.
O macro-mural levou nove meses para ser concluído, com início em janeiro deste ano. O maior desafio, segundo Priscila Amoni, foi manter a qualidade artística e a segurança da equipe sem interferir na rotina dos moradores. “Traduzir o canto visual do MAHKU — que nasce de rezas e espiritualidade indígena — para um contexto urbano exigiu sensibilidade. O resultado é uma obra viva, feita de muitas mãos e muitas histórias”, completou.
Com o projeto, a Vila São Luiz se consolida como novo ponto turístico e cultural da Grande BH, reafirmando o poder da arte pública como ferramenta de transformação social e integração entre mundos aparentemente distantes — a floresta e a cidade.
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