
A arquiteta Daniela Costa, de 35 anos, natural de Minas Gerais, foi julgada nesta quinta-feira (23/10) no Camboja, onde está presa desde março sob a acusação de tráfico de narcóticos. A sentença será anunciada em 12 de novembro de 2025, segundo informações confirmadas pela irmã da brasileira, Lorena Oliveira.
De acordo com a família, Daniela teria sido vítima de um golpe de tráfico humano, após aceitar uma falsa proposta de emprego em telemarketing no país asiático. Ao chegar ao local, a arquiteta percebeu que se tratava de uma organização criminosa especializada em aplicar fraudes cibernéticas e aliciar estrangeiros. Ao se recusar a participar das atividades, teria sido incriminada injustamente, após drogas serem plantadas em um banheiro que ela utilizava.
Desde então, Daniela encontra-se presa em uma cela superlotada, que abriga cerca de 90 pessoas, segundo relatos da família. A irmã da arquiteta afirma que o processo judicial apresenta diversas inconsistências, como a recusa em realizar um exame toxicológico, solicitado pela defesa para comprovar que Daniela não era usuária nem portadora de drogas.
“São situações que mostram que foi tudo armado. Esperamos que o governo brasileiro, por meio do Itamaraty e da Embaixada em Bangkok, pressione para que a Justiça seja feita e ela seja inocentada”, afirmou Lorena.
O processo no Camboja tramita sob a acusação de uso e porte de narcóticos, mas, segundo a família, o quarto e o banheiro onde as drogas foram encontradas eram compartilhados por várias mulheres e havia vigilância constante no local, o que reforça as suspeitas de armação.
O caso de Daniela se assemelha a outros episódios investigados pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), que desde 2022 vem alertando sobre o aumento do tráfico humano e golpes de falsas ofertas de emprego no Sudeste Asiático.
Em fevereiro de 2025, o MRE emitiu um novo alerta consular, informando que brasileiros têm sido aliciados para trabalhar em call centers e cassinos, principalmente no Camboja, Laos e Mianmar. As vítimas são submetidas a condições análogas à escravidão, forçadas a participar de fraudes online e, em muitos casos, acusadas injustamente de crimes.
A mãe de Daniela, Myriam Costa, contou que a filha sempre sonhou em trabalhar fora do país e já havia morado na Armênia e nos Estados Unidos. Ela recebeu a proposta de emprego no fim de janeiro, com promessas de salário, moradia e alimentação, mas, pouco depois da viagem, perdeu contato com a família.
“Usaram o telefone dela para pedir dinheiro dizendo que ela tinha pedido demissão. Mandamos R$ 27 mil achando que era verdade. Depois soubemos que ela estava presa”, relatou Myriam.
A mãe ainda descreve as condições precárias da prisão: “Lá tudo tem que pagar. Para um deitar, outro precisa ficar em pé. O banho é de caneca. Ela ficou doente e demoraram dias para levá-la ao hospital”.
Em nota, o Itamaraty confirmou que a Embaixada do Brasil em Bangkok, na Tailândia, acompanha o caso e tem prestado assistência consular à família, conforme a Convenção de Viena sobre Relações Consulares. O ministério reforçou que atua ativamente na prevenção ao tráfico de pessoas e mantém diálogo com as autoridades cambojanas.
Embora o Brasil tenha anunciado a abertura de uma embaixada no Camboja, a sede ainda não foi inaugurada, e as demandas seguem sendo intermediadas pela representação diplomática na Tailândia.
Enquanto aguarda a sentença, a família de Daniela mobiliza campanhas por sua extradição e inocência, apelando para que o governo brasileiro intervenha diplomaticamente no caso. “O que pedimos é justiça. Queremos nossa Dani de volta para casa”, desabafou a mãe.
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