Pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, desenvolveram um método ágil para identificar a presença de metanol em bebidas alcoólicas, usando um equipamento que emite luz infravermelha sobre a garrafa, mesmo que ela esteja lacrada. A tecnologia permite analisar a composição da bebida em poucos minutos, detectando metanol, adição de água ou outros compostos que possam ter sido introduzidos de forma fraudulenta.
A luz infravermelha provoca agitação nas moléculas da bebida, e um software interpreta os dados, identificando alterações em relação à composição original. De acordo com os pesquisadores, o método já demonstrou 97% de acurácia em testes realizados com 464 amostras de cachaça, incluindo amostras deliberadamente adulteradas com metanol, água e etanol veicular.
A pesquisa foi conduzida por membros do Departamento de Química e do Programa de Pós-graduação em Química da UEPB, sob coordenação do professor David Douglas Fernandes. Outro pesquisador envolvido, Felix Brito, explicou que a tecnologia surgiu antes da recente escalada de casos de intoxicação por metanol no Brasil, mas se mostrou oportuna diante do aumento de notificações: até esta segunda-feira (6), eram 200 casos suspeitos sob investigação, 17 confirmados e duas mortes, segundo o Ministério da Saúde.
Além do equipamento que utiliza luz infravermelha, os pesquisadores trabalham no desenvolvimento de um canudo que muda de cor em contato com o metanol. O dispositivo funcionaria de maneira semelhante a um teste de gravidez: a bebida umidifica um algodão contendo um agente indicador, que mudaria de cor para rosa caso detectasse metanol. Diferente da tecnologia por luz infravermelha, o canudo exigiria a abertura da garrafa, mas seria mais acessível financeiramente.
A criação da tecnologia contou com colaboração da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq). Inicialmente, os estudos utilizaram cachaça para verificar se a bebida tradicionalmente consumida no estado havia sido adulterada, seja por compostos naturais da produção ou por adições fraudulentas.
Em reunião por videoconferência no último sábado (4), os pesquisadores e reitores da UEPB apresentaram o projeto ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, discutindo possibilidades de expansão nacional. Segundo Brito, a expectativa é que, em 30 a 40 dias, a tecnologia comece a ter impacto significativo na detecção de metanol, facilitando a fiscalização e aumentando a segurança do consumo de bebidas alcoólicas em todo o país.
A equipe ainda planeja transferir a tecnologia para produção em larga escala, especialmente no caso do canudo indicativo, para que órgãos de vigilância, fiscalização e consumidores possam utilizar o método de maneira prática e acessível.
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