Zema dispara 30 críticas contra Lula e STF em 60 dias para se projetar nacionalmente

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), vem adotando uma nova postura nas redes sociais, marcada por uma estratégia contínua e coordenada de ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Partido dos Trabalhadores. Em apenas 60 dias, Zema publicou cerca de 30 conteúdos no feed do Instagram com esse teor, além de diversos stories e postagens no X (antigo Twitter), numa escalada que consolidou seu posicionamento como possível nome da direita para a disputa presidencial de 2026.

A guinada no discurso digital de Zema coincide com uma mudança interna no partido Novo, que trocou o marqueteiro Leandro Groppô por Renato Pereira no início de 2025. Desde então, as redes do governador ganharam novo visual, com vídeos mais profissionais, trilhas sonoras marcantes, uso de inteligência artificial e montagens provocativas. A visita de Lula à fábrica da Stellantis, em Betim, no mês de março, foi o estopim para a intensificação das críticas. O encontro foi marcado por trocas de farpas entre o presidente, Zema e o ministro Alexandre Silveira, e, desde então, as publicações ganharam ritmo quase diário.

As peças de comunicação seguem uma narrativa clara: expõem problemas nacionais — como inflação ou criminalidade — para, em seguida, exaltar ações do governo mineiro em contraste. Os vídeos alternam entre tom institucional e humor ácido, explorando tendências virais e montagens polêmicas. Em uma das mais comentadas, Zema aparece segurando um boneco com o rosto do presidente Lula, acompanhado da legenda “Vendo bebê reborn governo Lula. Custa caro, apertou faz caquinha, mas finge ser fofo.” Em outra, a imagem do governador é editada para parecer um bebê, comentando de forma irônica sobre seu jeito “caipira”.

Zema tem reforçado o discurso de que herdou um Estado em crise e, desde 2019, colocou Minas “nos trilhos”, com destaque para o pagamento em dia dos servidores e a recuperação fiscal. No entanto, a dívida do Estado com a União cresceu quase 45% em seus dois mandatos, saltando de R$ 114 bilhões para cerca de R$ 165 bilhões, e o governo enfrenta protestos recorrentes de diversas categorias do funcionalismo.

Mesmo assim, a exposição contínua nas redes é vista como essencial para a construção de uma candidatura nacional. Segundo interlocutores do partido Novo, a presença de Zema na corrida presidencial seria estratégica para garantir que a legenda alcance a cláusula de barreira em 2026, mantendo acesso a recursos públicos e tempo de televisão. Enquanto outros pré-candidatos da direita, como Tarcísio de Freitas (SP), buscam equilíbrio e diálogo com o governo federal, Zema aposta em um enfrentamento direto.

Especialistas apontam que essa atuação reflete a lógica da “campanha permanente”, na qual o político mantém visibilidade contínua nas redes, mesmo fora do período eleitoral. O cientista político Camilo Aggio explica que “a comunicação de campanha hoje é ininterrupta” e que a estratégia digital foi decisiva para o sucesso de nomes como Jair Bolsonaro em 2018. Já o marqueteiro Paulo Vasconcelos observa que presença digital, por si só, não garante vitória: “ninguém ganha eleição com seguidores. O desafio é sair da bolha e impactar o eleitorado real.”

Ainda sem uma definição oficial sobre sua candidatura à Presidência, Zema segue construindo sua imagem nacional com foco nas redes sociais e em um discurso de contraste direto com o governo federal. Resta saber se a estratégia digital se converterá em apoio eleitoral efetivo nos próximos anos.