Bonecos hiper-realistas com aparência de recém-nascidos, os bebês reborn ganharam enorme visibilidade nas redes sociais nos últimos meses. Com nomes, enxoval completo, certidão de nascimento e até consultas médicas simuladas, eles se tornaram protagonistas de vídeos virais que mostram rotinas de cuidado como se fossem filhos de verdade. Os preços variam, podendo chegar a até R$ 9.500, e há uma comunidade crescente de "mães" e colecionadoras apaixonadas. Mas onde termina o hobby e começa uma possível preocupação de saúde emocional?
Para o psicólogo Marcelo Santos, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é essencial evitar julgamentos precipitados. “Não dá para patologizar automaticamente. É preciso entender os contextos e motivações por trás desse comportamento”, afirma. Segundo ele, a prática pode ser benéfica: promove criatividade, relaxamento, senso de pertencimento e até interação social entre adeptas.
A psicóloga Rita Calegari, do Hospital Nove de Julho, ressalta que brincar, colecionar ou cuidar das bonecas como uma forma de passatempo ou relaxamento não representa um problema por si só. O ponto de atenção está no grau de envolvimento. Quando o apego à boneca compromete a vida social, profissional ou emocional da pessoa, é hora de ligar o sinal de alerta.
O psiquiatra Alaor Carlos de Oliveira Neto, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, pontua que um hobby saudável deve enriquecer a vida, sem prejudicar outras áreas. Ele cita comportamentos preocupantes como: substituir relações humanas por vínculos com o boneco, abandonar compromissos diários, gastar valores excessivos com acessórios, e não conseguir separar fantasia de realidade.
Segundo os especialistas, esse tipo de envolvimento excessivo pode revelar tentativas de lidar com traumas, solidão ou ansiedade. “Há casos em que o apego ao bebê reborn funciona como fuga emocional ou como forma de preencher vazios internos”, afirma Neto. Reações emocionais exageradas, como tristeza profunda ao receber críticas sobre a boneca ou preocupação em “não deixá-la sozinha” em casa, também são considerados sinais de desequilíbrio.
Ainda assim, os bebês reborn também vêm sendo usados de forma positiva na terapia. Em casos de luto gestacional, por exemplo, o contato com a boneca pode auxiliar na elaboração da perda. “Uma das maiores queixas de mães que sofrem natimortos é não terem podido segurar seus filhos. A ausência do corpo dificulta o luto. O reborn pode ajudar nesse processo”, explica Calegari. Em pacientes com Alzheimer, os bonecos podem estimular memória afetiva e gerar conforto emocional.
O fenômeno dos bebês reborn, portanto, está longe de ser apenas uma moda ou uma excentricidade. Para muitos, trata-se de uma ferramenta de expressão, afeto e, em alguns casos, de cura emocional. Mas, como em qualquer prática, o equilíbrio é fundamental. Quando o apego passa a substituir a vida real, é hora de buscar ajuda.
Fonte: O Tempo
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