A exposição à fumaça das queimadas que assolaram o Brasil em 2024 poderá levar a um aumento expressivo nos casos de câncer nas próximas décadas, especialmente os relacionados ao sistema de infecções, como o câncer de pulmão. O alerta vem do epidemiologista Ubirani Otero, chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que define a situação como “muito preocupante”. Segundo o especialista, se a exposição à fumaça não for mínima e imediata, o país poderá enfrentar um cenário ainda mais grave de doenças respiratórias e oncológicas.
A fumaça das queimadas contém uma mistura tóxica de compostos químicos, como monóxido de carbono, metais pesados e hidrocarbonetos aromáticos, o que torna ambientais cancerígenas. “As queimadas geram muito material particulado, e estamos falando de substâncias altamente nocivas que ficam suspensas no ar e são inaladas pela população”, explica Otero.
Segundo um epidemiologista, o período de latência entre a exposição à fumaça e o surgimento do câncer pode variar entre 20 a 30 anos. “Os efeitos da poluição que vendemos hoje só serão totalmente sentidos nas próximas décadas”, alerta. O câncer de pulmão, que já é um dos mais comuns entre os brasileiros, pode se tornar ainda mais prevalente se não forem tomadas medidas urgentes para conter as queimadas e reduzir a exposição à fumaça.
Além do risco de câncer, Otero destaca os impactos imediatos na saúde, como síndromes respiratórias, que afetam principalmente crianças, idosos e trabalhadores que atuam em áreas abertas, como os bombeiros. Ela defende medidas preventivas, como a suspensão de aulas em períodos críticos de poluição e o uso de equipamentos de proteção adequados para trabalhadores em contato direto com as chamas.
O Brasil enfrentou um dos cenários de queimadas dos últimos anos. Dados do Monitor do Fogo MapBiomas indicam que, entre janeiro e agosto de 2024, 11,39 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo, com 5,65 milhões de hectares – uma área equivalente ao estado da Paraíba – queimados apenas em agosto.
O epidemiologista Ubirani Otero reforça a importância de medidas preventivas para minimizar os impactos da fumaça das queimadas. Ela orienta a população a evitar sair de casa nos dias de maior concentração de fumaça, usar máscaras de proteção, beber bastante água e realizar lavagem nasal com frequência para evitar a inalação de partículas tóxicas.
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