A fome ainda é uma realidade dura para 40% dos moradores dos aglomerados da Serra e do Cabana do Pai Tomás, dois dos maiores em Belo Horizonte. De acordo com o estudo “Insegurança Alimentar e Nutricional sob a Perspectiva da Interseccionalidade”, divulgado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), quatro em cada dez pessoas dessas comunidades enfrentam insegurança alimentar severa, muitas vezes passando o dia sem acesso a alimentos.
A pesquisa, conduzida pela UFMG e coordenada pela pesquisadora Karynna Ferreira, revela que a situação de fome nessas áreas está diretamente ligada às desigualdades sociais e econômicas, exacerbadas pela pandemia de COVID-19. "A pandemia intensificou as desigualdades, ampliando os riscos de má nutrição e insegurança alimentar, o que afeta gravemente a saúde das populações mais vulneráveis", afirma Karynna.
Embora o país tenha registrado avanços na redução da insegurança alimentar severa, com 14,7 milhões de pessoas saindo dessa condição entre 2022 e 2023, segundo dados da ONU, a realidade das vilas da Serra e Cabana do Pai Tomás ainda é preocupante. O estudo ressalta que a fome nessas regiões tem cor, gênero e endereço. "Mulheres negras estão entre as mais vulneráveis à insegurança alimentar, muitas vezes sem condições de acessar alimentos nutritivos, o que perpetua um ciclo de pobreza e limita oportunidades de desenvolvimento", acrescenta a pesquisadora.
A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio de sua subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional, Darklane Rodrigues, reconhece o problema e destaca que a situação foi agravada pela pandemia e pela redução de investimentos em políticas sociais. “A pandemia representou um grande desafio, e ainda sentimos seus impactos, mas também houve redução no emprego e nos investimentos sociais nos últimos anos”, explica Darklane.
Para tentar reverter o quadro, a prefeitura lançou um Plano de Combate à Fome, com ações como a distribuição de cestas básicas e políticas voltadas para a segurança alimentar. Dados do IBGE indicam que 1,7% das residências de Belo Horizonte vivem em insegurança alimentar grave, o que equivale a cerca de 43 mil pessoas sem acesso adequado a alimentos. Em Minas Gerais, essa porcentagem sobe para 2,6% da população.
Os números, apesar de baseados em dados de 2018, ainda refletem uma realidade presente, mostrando a importância de esforços contínuos para combater a fome e promover a igualdade social nas comunidades mais carentes da capital mineira.
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