Uma investigação da Polícia Federal revelou a existência de um grupo criminoso de espionagem e extermínio que incluía em sua mira os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Cristiano Zanin, além do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado. Os nomes das autoridades constavam em anotações apreendidas com um dos integrantes da organização Comando C4 (Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos), desmantelada no curso das apurações sobre o assassinato do advogado Roberto Zampieri, morto com dez tiros em 2023 em Cuiabá (MT).
O grupo era composto por militares da ativa e da reserva, além de civis ligados a clubes de tiro. Um dos integrantes é o coronel reformado Etevaldo Caçadini de Vargas, dono do canal Frente Ampla Patriótica, usado para defender intervenção militar e atacar instituições democráticas. A PF descobriu que o grupo cobrava até R$ 250 mil para espionar ministros do STF. No caso de senadores, o valor girava em torno de R$ 150 mil; para deputados, R$ 100 mil.
As anotações incluíam menções diretas a ações de “vigilância armada” contra Pacheco, feitas em uma data específica em que o senador retornava de uma viagem internacional. Já os nomes de Moraes e Zanin, segundo avaliação da PF, estavam ligados ao planejamento de possíveis atentados. O arsenal encontrado com os investigados nesta quarta-feira, em Minas Gerais, inclui fuzis de precisão com silenciadores, pistolas equipadas da mesma forma, lança-rojões, minas magnéticas e explosivos com detonação remota.
“Externo meu repúdio em razão da gravidade que representa à democracia a intimidação a autoridades no Brasil”, afirmou Rodrigo Pacheco em nota oficial. Até o momento, Zanin e Moraes não se manifestaram sobre o caso.
A investigação teve início com o assassinato de Roberto Zampieri, conhecido como “lobista dos tribunais”, o que levou a PF a descobrir um esquema mais amplo envolvendo crimes de pistolagem, espionagem e venda de sentenças judiciais. O crime teria sido motivado por uma disputa fundiária envolvendo a Fazenda Lagoa Azul, em Mato Grosso. O fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo foi apontado como mandante. O executor confesso, Antônio Gomes da Silva, relatou ter recebido R$ 40 mil e usou uma boina e bengala para se disfarçar como capelão no momento do crime. O instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa forneceu a arma utilizada, enquanto o coronel Caçadini teria financiado parte do valor, segundo os depoimentos.
Nesta quarta-feira (data da operação), a PF cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, quatro de monitoramento eletrônico e seis de busca e apreensão em Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo.
A investigação sobre o assassinato de Zampieri também sustentou a 7ª fase da Operação Sisamnes, deflagrada para apurar a venda de decisões judiciais em tribunais estaduais e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A operação resultou no afastamento de cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (TJMS) em outubro de 2024, com base em milhares de mensagens de texto e áudio encontradas no celular da vítima.
Essas mensagens revelaram suspeitas de venda de sentenças por gabinetes de quatro ministros do STJ, um inquérito que segue sob sigilo no STF, sob relatoria do ministro Zanin. Em Mato Grosso, o conteúdo do celular de Zampieri levou ao afastamento, em agosto de 2024, dos desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, suspeitos de atuar em benefício do advogado mediante pagamentos irregulares. A decisão foi tomada pelo ministro Luis Felipe Salomão, corregedor nacional de Justiça, que também autorizou a quebra de sigilo bancário e fiscal dos investigados e de servidores do TJ-MT.
As apurações indicam que o lobista Anderson Gonçalves, apontado como principal intermediador entre Zampieri e os magistrados, cobrava por decisões favoráveis e mantinha relações estreitas com integrantes dos tribunais em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em áudios resgatados pela PF, Gonçalves reclama de valores atrasados e confirma a existência de um esquema de corrupção para manipular sentenças judiciais.
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