
Moradores do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, levaram na madrugada desta quarta-feira (29) dezenas de corpos para a Praça São Lucas, após uma das operações policiais mais violentas já registradas no estado. Segundo relatos de pessoas da comunidade, os corpos foram encontrados em uma área de mata situada entre os complexos do Alemão e da Penha, onde ocorreu, na terça-feira (28), a megaoperação das polícias Civil e Militar que já havia deixado oficialmente 64 mortos.
Testemunhas afirmam que pelo menos 40 corpos foram reunidos na praça por familiares e vizinhos, em uma tentativa de identificar as vítimas. As imagens mostram moradores consternados, alguns chorando e se abraçando enquanto reconheciam parentes entre os mortos. A mãe de um jovem de 20 anos contou que encontrou o filho com o pulso amarrado, ainda com sinais de que poderia ter sido socorrido. “Dava tempo de salvar”, disse, emocionada.
A advogada Flávia Fróes, que acompanhou a retirada dos corpos, afirmou que alguns apresentavam ferimentos graves, como tiros na nuca, facadas nas costas e marcas nas pernas. Segundo ela, o caso representa “o maior massacre da história do Rio de Janeiro”. Fróes e outros defensores de direitos humanos solicitaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) a presença de interventores e peritos internacionais para acompanhar as investigações.
Durante a manhã, fotógrafos e cinegrafistas registraram a cena que tomou a Praça São Lucas. O ativista Raull Santiago, que também esteve no local, afirmou que a decisão de levar os corpos à praça partiu das próprias famílias, como forma de denunciar as circunstâncias em que as vítimas foram encontradas. “É uma cena que entra para a história de terror do Brasil”, declarou.
Até o momento, o governo do Estado do Rio de Janeiro não se pronunciou sobre a nova descoberta de corpos. As forças de segurança mantêm a contagem oficial em 64 mortos — sendo 60 suspeitos e quatro policiais — durante a Operação Contenção, deflagrada para combater a expansão do Comando Vermelho e prender lideranças da facção. A Polícia Civil informou que as investigações continuam e que equipes estão em campo para verificar as denúncias de mortes não contabilizadas.
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