Por Verônica Barbosa, publicado na edição 50 do jornal Impactto News
A paralisação dos caminhoneiros foi uma prévia do poder que o transporte rodoviário tem sobre o nosso país, nas questões que envolvem a logística da entrega de produtos necessários para ao cotidiano dos brasileiros.
A greve desencadeou uma crise no sistema de abastecimento de combustível que consequentemente, provocou um caos em todo o país nos setores alimentícios, de transporte público que teve horários de ônibus reduzido, na educação que não teve ônibus abastecido para levar os alunos para escolas públicas, enfim, foram sequências de problemas desencadeados pela greve.
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A população apoiou a greve que lutava contra a alta do preço do diesel, mas ao mesmo tempo contradizia ao fazer filas quilométricas para abastecer os veículos nos postos de combustível a preços abusivos.
A equipe do Impactto News acompanhou a greve em Lagoa Santa. Conversamos com caminhoneiros que aderiram ao movimento e contaram das suas experiências nas estradas. Gustavo, caminhoneiro autônomo, liderou a paralisação na cidade e afirmou que a intenção era mostrar para o governo que os caminhoneiros são unidos e apoiavam os colegas em todo o país que reivindicavam a redução justa do valor do diesel. Ele afirmou: “O combustível é o termômetro da economia brasileira. A partir do momento que o combustível sobe, sobe o frete e automaticamente sobe o preço do produto na prateleira. Então todo mundo sai perdendo com isso.”
Leonardo, caminhoneiro há mais de 20 anos, afirmou que, para melhorar, tem que piorar. E essa é a solução. Sobre as melhorias, ele afirma que nada mudou nestes anos de estrada e acrescenta: “Lá fora o caminhoneiro tem valor e no Brasil a gente não tem. Quem carrega o país nas costas é gente. Vamos ver se agora o governo da valor.”
Outro caminheiro, Valdeci, 10 anos de estrada, defendeu a paralisação e disse que a classe é muita castigada e desvalorizada. “O país precisa mudar. Não somente os caminhoneiros que devem parar, mas todos, para o país mudar desde lá de cima. É muita corrupção. Isso tem que acabar.”
Sem combustível nos postos da cidade, os motoristas faziam filas nos pontos de abastecimento para esperar a chegada do caminhão tanque. No primeiro dia, a espera foi de mais de 12 horas e, ainda assim, muitos ficaram sem abastecer, porque o combustível não foi suficiente para atender a todos.
O preço do produto nas bombas estava de assustar e chegou a ser vendido por R$ 9,90 em postos de Belo Horizonte. Em Lagoa Santa o preço da gasolina não teve grande variação, mas o produto chegou a ser vendido a R$ 4,98 o litro.
Os mototaxistas que estavam na fila buscavam combustível para continuarem exercendo sua profissão e garantir o sustento. Eduardo, mototaxista há mais de 15 anos, garantiu que em casa estava faltando gás de cozinha, ração para os cachorros e afirmou: “Sem combustível ninguém vive. Sem combustível não tem serviço, não dinheiro no bolso. Não tem nada.”
A situação na cidade está normalizando. Após o fim da greve dos caminhoneiros, ainda é possível ver os reflexos nos postos de combustível nas filas de espera e na alta dos preços de alguns produtos. A situação deve demorar mais um pouco a normalizar. Mas no fim, a pergunta que não quer se calar é: alguém saiu ganhando com a greve? A população? Os caminhoneiros? Novo reajuste de 2,25% na gasolina já foi feito. Foram anunciados cortes na saúde e educação. Quem realmente ganhou com a paralisação? É hora de colocar na balança as perdas e os ganhos desta greve.