Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/2013, o número de casas brasileiras com insegurança alimentar caiu, entre 2009 e 2013, de 30,2% para 22,6%. Embora o resultado final ainda seja péssimo, podemos comemorar a evolução que, ocorrida num período em que poucos números sociais foram favoráveis, pode ser considerada relevante.
O combate à fome no Brasil teve, desde o final do século passado, um grande líder, o mineiro Herbert José de Souza, o famoso irmão do Henfil, cuja volta do exílio foi celebrada na música “O bêbado e a equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc.
Em entrevista registrada no livro “Ética e Cidadania”, Betinho, como era chamado o grande líder, afirma que, depois que o Movimento pela Ética na Política obteve o impeachment do presidente Collor, lideranças do movimento, surpresas com a própria força, observaram que sua articulação poderia ser canalizada para outro objetivo. Surgiu então a ideia de contrapor a ética não mais à mentira, à corrupção e à trapaça, caso do Collor, mas à miséria e à fome. “A fome é um crime ético. Democracia e miséria são incompatíveis”. As duas frases, registradas na contracapa do livro mencionado, mostram o início de uma ação organizada contra a fome, por iniciativa da sociedade e não das autoridades constituídas. No exemplar em minhas mãos, datado do ano de 2000, vejo as últimas palavras: …”Betinho demonstra que há no Brasil uma enorme fome de ética, que apenas começou a se manifestar.”
A previsão estava correta: …”apenas começou a se manifestar.” Se, por um lado, a fome de arroz com feijão vem sendo reduzida a passos relevantes, a fome de ética e dignidade explodiu, alcançou todos os brasileiros, e não há safra de arroz ou providência do Ministro da Agricultura que possa saciar essa carência. Continuamos precisando do Movimento pela Ética na Política. Comer bem é comer com dignidade.
_Armando de Melo Dutra